quinta-feira, 2 de maio de 2013

BANALIDADE

 
 
 
Dizem que na África comem crianças.
Que no oriente os ônibus explodem cheio de criancinhas.
Que os americanos possuem um míssil estranho
Que penetra no chão, feito tatu, e explode lá embaixo.
Mas nada dizem de uma família de retirantes
Que se arranchou na porta de minha casa.
 
São dois adultos e três crianças.
Juntaram uns papelões, uns panos sujos e
Construíram alguma coisa parecida com uma casa.
Esmolaram os suprimentos com os vizinhos.
Um pouco de café, açúcar, leite, pão, sal, água e uma boneca quebrada.
 
Ontem à noite, choveu muito.
A chuva não me acordou
O frio não me acordou
Os fantasmas não me acordaram.
 
Pela manhã, vi que os retirantes se retiravam.
Para onde?
Tanta chuva destruiu a irreal moradia.
A polícia estava lá, será que os expulsavam?
Não, estavam cuidando da liberação para sepultamento de um dos menininhos.
 
O pobrezinho não resistiu ao frio.
A televisão não noticiará.
Os jornais não perderão tempo com isso.
Nem eu e nem ninguém rasgaremos nossos lençóis.

      

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