Dizem que na África comem crianças.
Que no oriente os ônibus explodem cheio de criancinhas.
Que os americanos possuem um míssil estranho
Que penetra no chão, feito tatu, e explode lá embaixo.
Mas nada dizem de uma família de retirantes
Que se arranchou na porta de minha casa.
São dois adultos e três crianças.
Juntaram uns papelões, uns panos sujos e
Construíram alguma coisa parecida com uma casa.
Esmolaram os suprimentos com os vizinhos.
Um pouco de café, açúcar, leite, pão, sal, água e uma boneca quebrada.
Ontem à noite, choveu muito.
A chuva não me acordou
O frio não me acordou
Os fantasmas não me acordaram.
Pela manhã, vi que os retirantes se retiravam.
Para onde?
Tanta chuva destruiu a irreal moradia.
A polícia estava lá, será que os expulsavam?
Não, estavam cuidando da liberação para sepultamento de um dos menininhos.
O pobrezinho não resistiu ao frio.
A televisão não noticiará.
Os jornais não perderão tempo com isso.
Nem eu e nem ninguém rasgaremos nossos lençóis.
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