quarta-feira, 26 de junho de 2013

INVENTÁRIO




Cato tudo que tenho e guardo num saco...
Algumas roupas, alguns olhares curvos, algumas palavras.
Um cheiro de café, um "puta que pariu".
Eu tenho apenas isso e as lembranças.
No meio de tudo, quase por acaso, eu percebo algo
Que lembro ter visto, mas não reconheço.
De onde tirei isto, será mesmo meu? 
Será mesmo minha?
Não quero levar, eu não sou assim.
É uma hipocrisia, uma intolerância quase covardia.
Um orgulho encoberto que vem disfarçado de um falso amor próprio.
Um viés de maldade que mesmo contido, mesmo dispersado nas pequenas coisas
Agora aparece, teima em não ficar.
E sua cor cinza, sem brilho, sem vida
Sua forma estranha, triste, indefinida
Seu cheiro intragável, crime sem perdão.
Contamina tudo onde eu ponho a mão.
Depois de um instante de múltipla repulsa
Vejo neste vômito uma parte minha
E guardo-o no saco da minha existência.

    

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