domingo, 19 de maio de 2013

NO SERTÃO DOS MEUS AVÓS



No sertão de meus avós,
É sempre a mesma toada.
À noite, o som da cantiga,
De dia, o som do trabalho.

Um gole de café "preto"
Um taco de tapioca
Um velho chapéu de couro
No peito - Sonhos e sonhos!

Seis cabeças de galinha
No terreiro, ciscam o tempo.
O leite quente das tetas
Diz que a vida é vida e é boa.

As pessoas se procuram.
Os animais se procuram.
Um cheiro forte, de sangue
Vem da terra e os excita.

A alcova, os trastes sem uso,
Um velho rosário preto.
Tudo parece sem vida.
Porém, por baixo do mofo
A vida soluça e grita!

São gritos de dor e gôzo
Das pretas nas capoeiras
Nas mãos de brancos mandantes.

O som do chicote embala
Gritos de dor na senzala.

E a ira da minha avó,
Com ciúmes do meu avô,
Matou a linda mulata.

No entanto, tudo passou.
E se hoje a conversa é outra
A toada ainda é antiga:
De dia, o som do trabalho.
À noite, o som da cantiga.



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