quarta-feira, 22 de maio de 2013

ANJOS






Ao cair da tarde
À porta de casa
Quase todo dia,
Desfilava um anjo.
 
Lembro que as crianças
Caminhando ao lado
Do pequeno santo
Rezavam baixinho.
 
Vinha do Escondido
Do Alto Formoso
De qualquer lugar
Sempre para o mesmo.
 
Carinha amarrada
Sem bico, sem riso,
Sem choro, sem olhos...
Seguia - Solene.
 
Sempre caladinho
Não deixava pistas.
Porque não ficava?
Porque já se ia?
 
Minha mãe dizia
Com sua voz sóbria:
Quando lá no céu
Os anjos são poucos
 
Para tantas almas,
Deus olha pra terra
E sem cerimônia,
Escolhe mais anjos.
 
Por isso é que cantam,
Rezam, colhem flores
E enfeitam o anjinho
Para o grande encontro.
 
Por isso é que a morte
Guarda a cara feia
De matar defunto,
Veste roupa azul.
 
Depois, descobri
A outra verdade:
Na falta de leite,
De suco, de sopa
 
O que resta é fome.
E a fome seguida,
Doída, insistente,
Sem pausa, sem lanche...
 
Acaba trazendo
Outra companheira.
E esta não cansa.
É rápida, certeira.
 
Febre, olhos fundos,
Diarréia, vômito...
Por fim, mais um anjo
Para o outro mundo.
 


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário