domingo, 3 de junho de 2018

O ANTES

No tempo em que as coisas foram feitas, os animais falavam.
Os animais, as pedras, as águas...
Tudo falava.
As conversas entre riachos, borboletas e pedrinhas redondas eram comuns.
As coisas eram conhecidas por sua voz.
Só depois, muito depois, as coisas ganharam os nomes.
Foi quando perderam a fala.

Alguns homens, aqueles mais parecidos com barro, pedra, árvore...
Mais propensos a imotização, continuam ouvindo a voz das coisas.
Quando menino, eu ouvia a voz das coisas.
Aprendi com um amigo colombiano, José Arcádio Buendía
Depois, esqueci de saber ouvir.

Hoje, passo dias tentando ser a voz das coisas.
Cantar como as pedras cantam.
Falar a fala das árvores, quando conversam com os pássaros.
Ser o grito de alegria das águas, quando despencam nas cachoeiras.
Pois eu sei, quando essas coisas conversam,
Conversam de poesia.              

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