terça-feira, 25 de julho de 2017

ENTARDECER

Ontem, quando as luzes se apagaram
E o silêncio tornou-se completo,
O entardecer trouxe um aroma de impossibilidade.

Para não morrer, tive que fugir.
Fugi para a cidade onde as luzes nunca apagam.
Onde o silêncio ecoa nas pedras
Como uma gargalhada de felicidade
E a vida é infinita.

Lá, nesta cidade, eu posso ser o que quero.
Posso nadar nos rios, pegar passarinhos na gaiola de alçapão,
Conversar com os bichinhos que vivem nos brejos.
Posso até declarar, publicamente, minha paixão pela professora de ciências
Que é mulher do dentista.

Quando estou nesta cidade, 
Posso trabalhar novamente nos planos de viajar para a lua,
No antigo projeto interrompido de mergulhar no rio que corre nos olhos da menina de olhos azuis.

Enquanto as luzes não clareiam,
Enquanto as palavras não dizem,
Enquanto o cheiro de morte não desaparece,
Eu permaneço lá e sobrevivo.   


 

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